Espírito encarnado
Questões e Problemas
CURA MORAL DOS ENCARNADOS

Muitas vezes vemos Espíritos de natureza má cederem muito prontamente sob a influência da moralização e se melhorarem. Podemos agir do mesmo modo sobre os encarnados, mais com muito mais trabalho. Por que a educação moral dos Espíritos desencarnados é mais fácil que a dos encarnados?

Esta pergunta foi motivada pelo seguinte fato. Um rapaz, cego há doze anos, tinha sido recolhido por um espírita devotado, empenhado em curá-lo pelo magnetismo, pois os Espíritos haviam dito que a cura era possível. Mas o rapaz, em vez de se mostrar reconhecido pela bondade de que era objeto, e sem a qual teria ficado sem asilo e sem pão, só teve ingratidão e mau procedimento, dando provas do pior caráter.

Consultado a respeito, respondeu o Espírito São Luís:

“Como muitos outros, esse jovem é punido por onde pecou e suporta a pena de sua má conduta. Sua enfermidade não é incurável, e uma magnetização espiritual, praticada com zelo, devotamento e perseverança, certamente teria êxito, auxiliada por um tratamento médico destinado a corrigir seu sangue viciado. Já haveria uma sensível melhora em sua visão, que ainda não está completamente extinta, se os maus fluidos de que está cercado e saturado não opusessem um obstáculo à penetração dos bons fluidos que, de certo modo, são repelidos. No estado em que se encontra, a ação magnética será impotente, enquanto não se desembaraçar, por sua vontade e sua melhoria, desses fluidos perniciosos.

“É, pois, uma cura moral que se deve obter, antes de buscar a cura física. Só um retorno sério sobre si mesmo poderá tornar eficazes os cuidados de seu magnetizador, que os Espíritos bons se desvelarão em secundar. Caso contrário, deve-se esperar que perca o pouco de luz que lhe resta e que sofra novas e mais terríveis provações.

“Agi, pois, sobre ele como fazeis com os Espíritos maus desencarnados, que quereis reconduzir ao bem. Ele não está sob a ação de uma obsessão: é sua natureza que é má e, além disso, perverteu-se no meio onde viveu. Os Espíritos maus que o assediam só são atraídos pela similitude existente entre eles; à medida que se melhorar, eles se afastarão. Só então a ação magnética terá toda a sua eficácia. Dai-lhe conselhos; explicai-lhe sua posição; que várias pessoas sinceras se unam em pensamento para orar, a fim de atrair para ele influências salutares. Se as aproveitar, não tardará a lhes experimentar os bons efeitos, pois será recompensado por um mais sensível na sua posição.”

Esta instrução nos revela um fato importante, o do obstáculo oposto pelo estado moral, em certos casos, à cura dos males físicos. A explicação acima é de uma lógica incontestável, mas não poderia ser compreendida pelos que só vêem em toda parte a ação exclusiva da matéria. No caso em tela, a cura moral do paciente encontrou sérias dificuldades; foi o que motivou a pergunta acima, proposta na Sociedade Espírita de Paris.

Foram obtidas seis respostas, todas concordando perfeitamente entre si. Citaremos apenas duas, para evitar repetições inúteis. Escolhemos aquelas em que a questão é tratada com mais desenvolvimento.

I

Como o Espírito desencarnado vê manifestamente o que se passa e os exemplos terríveis da vida, compreende com tanto mais rapidez o que o estimula a crer ou a fazer. Esta a razão por que não é raro vermos Espíritos desencarnados dissertarem sabiamente sobre questões que, em vida, estavam longe de os comover.

A adversidade amadurece o pensamento. Esta expressão é verdadeira sobretudo para os Espíritos desencarnados, que vêem de perto as conseqüências de sua vida passada.

A negligência e o preconceito, ao contrário, triunfam nos Espíritos encarnados; as seduções da vida e, mesmo, os seus desenganos, dão-lhes uma misantropia ou uma completa indiferença pelos homens e pelas coisas divinas. A carne lhes faz esquecer o Espírito; uns, essencialmente honestos, fazem o bem evitando o mal, por amor do bem, mas a vida de sua alma é quase nula; outros, ao contrário, consideram a vida como uma comédia e esquecem seu papel de homens; outros, enfim, completamente embrutecidos e no último degrau da espécie humana, nada vendo além, não pressentindo mesmo nada, entregam-se, como animais, aos crimes bárbaros e esquecem sua origem.

Assim, uns e outros, pela própria vida, são arrastados, ao passo que os Espíritos desencarnados vêem, escutam e se arrependem com mais boa vontade.
Lamennais (Médium: Sr. A. Didier)

II

Quantos problemas e questões a resolver antes que seja realizada a transformação humanitária conforme as idéias espíritas! a da educação dos Espíritos encarnados, do ponto de vista moral, está neste número. Os desencarnados estão desembaraçados dos laços da carne e não mais lhe sofrem as condições inferiores, ao passo que os homens, acorrentados numa matéria imperiosa do ponto de vista pessoal, se deixam arrastar pelo estado das provas no qual estão mergulhados. É em razão da diferença entre as diversas situações que se deve atribuir a dificuldade que experimentam os Espíritos iniciadores e os homens encarregados de melhorarem rapidamente e em algumas semanas, as criaturas que lhes são confiadas. Os Espíritos, ao contrário, aos quais a matéria já não opõe suas leis, nem mais fornece meios de satisfazer seus maus apetites e que, por conseguinte, não têm mais desejos insaciáveis, são mais aptos a aceitar os conselhos que lhes são dados. Talvez respondam com esta pergunta, que tem sua importância: Por que não ouvem os conselhos de seus guias do espaço e esperam os ensinamentos dos homens? Porque é necessário que os dois mundos, visível e invisível, reajam um sobre o outro e que a ação dos humanos seja útil aos que viveram, como a ação da maior parte destes é benéfica aos que vivem entre vós. É uma dupla corrente, uma dupla ação, igualmente satisfatória para esses dois mundos, que estão unidos por tantos laços.

Eis o que julgo dever responder à pergunta levantada por vosso presidente.

Erasto (Médium: Sr. d’Ambel)

SOBRE A MORTE DOS ESPÍRITAS

Desde algum tempo a morte tem levado bem grande número de espíritas fervorosos e dedicados, cujo concurso podia ter sido útil à causa. Qual a conseqüência a tirar deste fato?

Esta pergunta foi motivada pela morte recente do Sr. Geoffroy, de Saint-Jean d’Angely, membro honorário da Sociedade Espírita de Paris.

(Sociedade de Paris, 26 de maio de 1865 – Médium: Sra. B...)

Como acaba de dizer o vosso presidente, um grande número de adeptos de nossa bela doutrina deixou o vosso mundo ultimamente. Não os lamenteis; depois de haverem feito os primeiros sulcos nesse campo que ides arrotear, foram repousar algumas horas, a fim de se prepararem para um novo trabalho; foram retemperar sua alma viril nessa fonte de vida e de progresso que, cada vez mais, deve derramar em vossa Terra suas ondas benfazejas. Em breve, novos atletas surgirão em campo com novas forças e uma caridade mais perfeita. Porque a alma que entreviu os esplendores da eterna verdade não pode recuar; mas, fiel à atração divina que a quer aproximar do foco da justiça, da ciência e do amor, segue seu caminho sem mais se desviar.

Oh! meus amigos, como é bela esta morada que vos está preparada! Tornai-vos dignos dela o quanto antes; libertai-vos, pois, dessas susceptibilidades indignas, que muitas vezes ainda se encontram em vosso meio; são resquícios das raízes do orgulho, tão difíceis de extirpar do vosso mundo e, contudo, foi para o destruir que o Cristo veio entre vós; porque enquanto ele subsistir entre os humanos, estes não poderão alcançar a felicidade.

Meus amigos, há dezoito séculos que vos pregam a admirável doutrina do Cristo, e ela ainda não foi compreendida; mas o Espiritismo, vindo vos ensinar a desenvolver vossas faculdades intelectuais e a lhes dar uma boa direção, abre uma era nova em que se preencherá a lacuna que existia no ensino primitivo.

Assim, estudai de maneira séria e digna de tão grave assunto; mas, sobretudo, modificai o que há em vós de imperfeito, porque o mestre diz a todos: “Tornai-vos perfeitos, como perfeito é vosso pai celestial.” Então vossa alma depurada se elevará gloriosa para as esplêndidas regiões onde o mal não tem mais
acesso e onde tudo é harmonia.

São Luís
R.E. , julho de 1865, p. 285